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Ciclo de Diálogos entre Psicanálise e Literatura


Todo mundo mais ou menos sabe que a psicanálise modificou a cultura a partir de sua época. Nem todos sabem a dimensão dessa transformação.

Freud argumentou, de maneira incontornável, que o Eu não é senhor de sua própria casa - isto é, que essa parte de nós que acredita se saber e contar de si, é apenas produto do nosso próprio enigma.

O Leminski disse:

"viver é super difícil

o mais profundo

está sempre na superfície."

Foi sugerido, até mesmo, que a revolução freudiana equivale, em força, à revolução de Copérnico que tirou a humanidade do centro do universo e à de Darwin, que a destituiu de sua imagem e semelhança com Deus.

A psicanálise nunca ficou restrita a um campo só científico. Psicanálise e arte confessam uma influência mútua. Por um lado, Freud e Lacan recolheram das diversas formas de arte - a literatura, a pintura, o teatro etc - pretextos e exemplos para suas elaborações. Por outro, tantos artistas disseram se inspirar na psicanálise que não poderíamos listar todos: Fernando Pessoa, Beckett, Dalí, Magritte...

Com mais atenção, poderíamos observar um grupo de escritores e escritoras contemporâneos a Freud, e que viveram o ápice da Modernidade.

Essa Modernidade nos importa, porque é para ela que a imaginação da nossa própria época retorna - cheia de contradições - em busca de referências para nossos impasses: fantasias de prosperidade, de país, de configuração familiar, ou de liberdade, justiça, igualdade, revolução etc.

A Modernidade gerou em sua própria cultura - além da psicanálise - o Modernismo. É nele que figura, como nunca antes, o indivíduo e sua subjetividade.

É como se o Modernismo tivesse, numa face, o valor da contracultura, ao denunciar os limites e as falsidades do mundo ocidental. E, na outra, o sintoma do desamparo criado pela sociedade de massas, pelas guerras mundiais, pelas crises, pelo imperialismo.

Bem, a literatura modernista inspirou e ainda inspira a cultura mundial: gente como a gente se torna coisa interessante e a subjetividade é descoberta como grande campo narrativo.

Essa literatura, culturalmente tão impactante - cultuada, hoje, em seus clássicos - ao ser influenciada pela psicanálise, se transformava em correia de transmissão de ideias, intuições e conceitos psicanalíticos na cultura geral. Mais ainda: inspirava a própria psicanálise a se expandir, a se tornar mais complexa.

Tomemos quatro grandes títulos, de quatro grandes autores do período: "Em busca do tempo perdido", de Marcel Proust (cuja publicação se inicia em 1913 e acaba em 1927, cinco anos após a morte do autor); "Ulysses", de James Joyce (1922), "A montanha mágica" (1924) de Thomas Mann e "Mrs Dalloway", de Virgínia Woolf (1925).

Entre esses anos, Freud circulou pelos países europeus em conferências psicanalíticas e publica grandes clássicos: Totem e Tabu (1913), Além do princípio de prazer (1920), Psicologia das massas e análise do eu (1921), O ego e o id (1923), O futuro de uma ilusão (1927), dentre outros.

Os autores desses romances discutiram o impacto da psicanálise sobre a fatura literária. As histórias que escreveram humanizam e colocam em jogo a perplexidade de suas personagens frente aos desejos que sentem sem compreendê-los, às vontades que não conseguem negar, às memórias que ora fogem, ora arrebatam.

Acabaram por tomar dilemas que nos acompanham até a contemporaneidade, e dar a eles uma elaboração que se tornou herança e repertório de algo em nossa própria gramática simbólica nos dias de hoje.


A propósito dessa relação instigante entre literatura e psicanálise, a Associação Livre oferece um curso de formação continuada voltado para psicanalistas e leigos.

O objetivo do curso é explorar a interface entre a técnica literária modernista e a psicanálise.

Será apresentado o contexto histórico das obras, seu roteiro, as questões que provocaram e, em seguida, uma partilha dos destaques, interpretações e sentimentos que cada leitura provocou entre os presentes.

Os encontros serão híbridos: online através do Google Meet e presencialmente em Campinas, no Cambuí.


O cronograma dos encontros será mensalmente aos sábados:

·         23/08: Ulisses

·         20/09: Mrs Dalloway

·         18/10: A montanha mágica

·         22/11: Em busca do tempo perdido

 

Para inscrições ou dúvidas, entre em contato via WhatsApp (19983807029) ou Instagram (@danielcostatxt).

Investimento: R$50,00 por encontro.

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